TUDO QUE VEIO ANTES ERA INVEJA: A INVEJA É UM VÍCIO MESQUINHO E SÓRDIDO

 



“O termômetro do sucesso é apenas a inveja dos descontentes” (Salvador Dalí)... Dever ser errado em algum lugar do mundo começar um parágrafo lançando uma frase de algum famoso. Mas o fato é que para buscar embasamento nas coisas que pretendemos dizer, usualmente fazemos citações dos que vieram antes. Não é certo sair por aí expondo opiniões avulsas sem o correto estudo do tema. 


Embora o tema inveja talvez seja algo desinteressante, a vontade que me inspira se justificará com o tempo.  E Dalí logo no começo abre os caminhos para todos os demais que se apresentarão durante o percurso da leitura. 


Todos, em algum momento da vida, se vêem embebidos de um sentimento negativo do sucesso de um alguém conhecido. Este sucesso alheio não precisa ser necessariamente sobre dinheiro, beleza ou amor, embora estes sejam os mais comuns a despertar tais sentimentos de inveja. 


Na língua portuguesa, a palavra inveja é definida como sendo “desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia”. Uma segunda definição trata a inveja como “desejo irrefreável de possuir ou gozar o que é de outrem.” 


Logicamente, eu não deveria deixar de lançar mãos das fontes filosóficas mais antigas sobre a inveja. E já no começo peço auxílio do Sacerdote Tanquerey (1955, p. 531), onde ele assevera que  a inveja é, ao mesmo tempo: “Paixão e vício capital. Como paixão, é uma espécie de tristeza profunda que se experimenta na sensibilidade à vista do bem que se observa nos outros; esta impressão é acompanhada duma constrição do coração que lhe diminui a atividade e produz um sentimento de angústia…”


De acordo com a Enciclopédia Europeo-Americana (1930, p. 203), a inveja, no seu conceito filosófico, “é uma paixão que é, ao mesmo tempo, filha do orgulho e da malquerença. É um profundo pesar do bem que o outro goza e que se volta contra as pessoas a quem quer mal porque possuem o que ele por inveja quisera para si”.


Cícero, grande orador romano definiu a inveja como a amargura que se sofre por causa da felicidade alheia.


A inveja,  muitas vezes, pode acarretar em problemas muito maiores para a vida do invejoso e até mesmo para seu alvo. Pois o invejoso regozija-se com o fracasso de seu alvo. Ou seja, a inveja acessa regiões de prazer do cérebro ao verificar que o alvo falhou em algum aspecto de sua vida. 


E a que custo o invejoso busca atingir este prazer? Normalmente por via de insultos deliberadamente colocados visando diminuir o alvo. O invejoso fica o tempo todo monitorando - o em busca de algum erro. Seu objetivo é destruí-lo. O invejoso é mentiroso, falso e tem dificuldades de estabelecer amizades verdadeiras, pois não admite o fato de as outras pessoas possuírem capacidades intelectuais e habilidades superiores às suas. Não se inveja apenas a prosperidade, mas também as capacidades contidas no outro.


Erika Ricci, psicóloga, que por sinal recebe grande espaço neste estudo, afirma que no grau moderado, a pessoa invejosa deseja que o outro nunca vá para a frente. Já no grave, o invejoso é ruim, vingativo, dissimulado e não gosta do trabalho, da labuta e de estudar. 


Para o invejoso se livrar deste sentimento ruim, ele tem a necessidade de se fazer uma autoanálise, preferencialmente acompanhado de um profissional qualificado. E para entender que precisa de ajuda, o invejoso deve reconhecer sua condição. 


Claro que o processo de aceitação do sentimento de inveja pelo sucesso de alguém não é fácil. E quando cito a palavra aceitação estou enfatizando o fato de que a inveja é um sentimento que, segundo estudos do  japonês Hidehiko Takahashi, em 2016, atinge as mesmas  regiões do cérebro que são acionadas quando sentimos dor física. Entender e aceitar o sentimento de inveja é o primeiro passo para se livrar desta patologia. 


Tudo bem, caro leitor! Talvez eu tenha exagerado em listar a inveja como patologia no parágrafo anterior. Patologia por definição é qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. E segundo a psicóloga  Erika Ricci, a inveja é um desvio de caráter e não uma doença. 


“A inveja é um sentimento que se firma na formação do caráter da pessoa, ou seja, desde a concepção do feto até os 7 anos de idade, quando a personalidade da criança está formada.” (Érika Ricci)


O psicanalista Freud abordou a inveja como resultante de um ódio inconsciente enraizado na infância, estabelecendo conexões estreitas com a raiva e a depressão. Mas não o definiu como sendo uma doença, mantendo válida a posição defendida por Ricci. 


O invejoso carrega consigo certa inferioridade e maldade. A crítica é como um chicote em suas mãos. O invejoso sempre está em busca de um ponto negativo nas realizações alheias com objetivo nítido menosprezar suas conquistas. 


A inveja é um sentimento humano. Não há estudos até o momento que refute esta afirmativa. E como vimos, sua origem tem a ver com a formação de caráter. Para tanto é necessário que se compreenda que as oportunidades estão dispostas ao alcance das capacidades individuais desenvolvidas. Logicamente, entro aqui em outras searas do conhecimento tais como a desigualdade social e diversidades dos grupos minoritários. Mas não anula a percepção das singularidades de cada indivíduo.  


No instante em que percebemos a peculiaridade de nossa existência, com metas e potenciais singulares, a inveja transmuta-se e adquire uma outra dimensão essencialmente mais  produtiva. Essa perspectiva vai além do simples reconhecimento de nossas capacidades e desejos autênticos, estendendo-se ao estímulo desses elementos nas pessoas ao nosso redor. Dessa forma, a inveja assume um papel positivo, integrando-se construtivamente às suas conquistas.


Por fim, quando me deparo com um invejoso, apego ao que nos presenteia o filósofo alemão do século XIX, Arthur Schopenhauer quando dizia: “Ninguém é realmente digno de inveja, e tantos são dignos de lástima!”.


26/01/2023





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