Falar sobre o sistema prisional brasileiro é falar sobre o avesso do Direito.
É entrar em um lugar onde as leis não têm voz. Onde a Constituição é um papel rasgado, e a dignidade humana vira um conceito distante, quase irônico. Lá dentro, o que impera é o poder — e ele raramente é justo.
Como servidora pública, eu vi o que muitos só imaginam em manchetes.
Vi homens reduzidos a números.
Vi mulheres silenciadas por chefias que confundem hierarquia com abuso.
Vi profissionais adoecidos, cercados por escorpiões, ratos e baratas — por dentro e por fora.
Dentro do presídio, o tempo não passa — ele apodrece.
Ali, se morre aos poucos.
Morre-se na humilhação de quem questiona e é calado.
Morre-se ao ver decisões tomadas não pela lei, mas por conveniência, por medo ou por pura vaidade.
Morre-se ao perceber que o Direito, tantas vezes, se tornou um teatro onde o mais fraco nunca tem fala.
Não são só os detentos que vivem presos.
Nós também nos tornamos prisioneiros.
Do sistema.
Do medo.
Da omissão.
Do assédio disfarçado de protocolo.
Do silêncio que mata mais do que qualquer grito.
Ali dentro, aprendi que o Direito, sem humanidade, é só mais uma forma de violência.
E que proteger a própria saúde mental dentro daquele ambiente é, muitas vezes, o maior ato de resistência.
Não romantizo minha passagem por lá.
Foi dura. Suja. Escura.
Mas me ensinou algo definitivo: não basta conhecer a lei. É preciso sobreviver a ela.
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1 Comentários
PROFUNDO, FORTE, E VERDADEIRO... HÁ DEZESSEIS ANOS VIVO ISSO... sugiro a autora da materia escrever um livro, ela tem conhecimento e experiencia no assunto.
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